Sem balanço financeiro, Petrobras deve ter que emitir ações

Analistas consideram medida inevitável para estatal pagar credores

A Petrobras deve se ver forçada a emitir ações para levantar recursos — em condições extremamente desfavoráveis de preço — caso não divulgue balanço financeiro auditado até o fim de abril, dizem analistas financeiros. Esse é o prazo da Securities and Exchange Commission (SEC) para a publicação do documento. Mesmo que grande parte dos credores aceite a publicação até 60 dias após esse limite, acredita-se que o desprezo pela norma da SEC possa levar à exigência de antecipação de vencimento dos títulos da empresa. O montante total supera US$ 50 bilhões.

É óbvio que emitir ações não é a uma opção excelente, uma vez que a adesão seria pequena e a empresa teria de dar um grande desconto no seu preço para ser atraente — disse Karina Freitas, da Concórdia. — É fácil falar que a situação poderia ser resolvida com um aporte do BNDES, mas isso leva em conta uma situação que não existe mais para o banco de fomento nesse cenário de austeridade.

Em relatório, Paula Kovarsky, do Itaú BBA, considerou inevitável a emissão de ações se a Petrobras não publicar o balanço até abril e se for rebaixada pela Fitch. E para Omar Zeolla, da Oppenheimer, o atual baixo preço da ação da estatal significa que os acionistas já antecipam uma diluição dos papéis com essa possível oferta.

O rebaixamento da nota de crédito da Petrobras, que perdeu o grau de investimento na agência de classificação de risco Moody’s, fez com que as ações da estatal fechassem com queda de quase de 5%, nesta quarta-feira. As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras registraram queda de 4,87%, a R$ 9,38, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) caíram 4,52%, a R$ 9,30.

Durante o dia, o papel preferencial (com direito a voto) da petrolífera chegou a cair 8,72%. Houve queda também nos negócios realizados na Bolsa de Nova York. Os recibos de depósitos de ações (ADRs, American Depositary Receipts) da Petrobras recuaram 5,69%, a US$ 6,47. Na terça-feira, esses papéis tinham fechado em alta de 5,86%, a US$ 6,86.

Conselheiro

O representante dos funcionários da Petrobras no Conselho de Administração da companhia, Sílvio Sinedino, disse nesta quarta-feira que o governo federal deveria usar parte das reservas internacionais, de US$ 380 bilhões, na compra de ações da Petrobras.

– A Petrobras está com a situação de caixa difícil e o governo precisa dar uma demonstração que acredita na companhia. Se o governo federal não acredita, quem vai acreditar? – questionou.

Fonte: O Globo / Com Ramona Ordoñez e Ana Paula Ribeiro