Repetro traz dúvida para leilão da ANP

Repetro traz dúvida para leilão da ANP

Às vésperas da 15ª Rodada de Licitações de blocos exploratórios da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as incertezas sobre a situação do Repetro no Rio de Janeiro podem afetar a decisão de investidores com relação ao leilão da próxima quinta-feira e à 4ª Rodada do pré-sal, marcada para junho. O Repetro é um regime fiscal especial para exportação e importação de bens destinados à exploração e produção de petróleo e gás.

No fim do ano passado, o governo federal aprovou ajustes e a extensão da validade do Repetro, de 2020 para 2040. O projeto de lei (PL) 3.660/2017, de autoria do deputado estadual André Ceciliano (PT) autoriza o Estado do Rio a aderir ao Repetro, porém apenas na etapa de exploração. De acordo com o texto, na prática, a aquisição de equipamentos na fase de desenvolvimento da produção seria tributada normalmente. O PL seria votado pelo plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) na última semana, mas a pauta foi adiada.

O Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), que reúne as grandes petroleiras que atuam no país, ressaltou a importância de eliminar incertezas e reduzir insegurança jurídica do setor antes da 15ª Rodada.

“Nesse contexto, a não adesão do Estado do Rio ao convênio [Repetro] pode gerar uma insegurança adicional, que será precificada e terá potencial impacto no resultado da oferta e no apetite por blocos confrontantes com o litoral fluminese, o que pode se refletir, no futuro, em uma frustração de arrecadação para o Estado, na geração de emprego e renda, na atração de investimentos e na manutenção e instalação de fábricas e bases de apoio no Estado do Rio”, informou o IBP, em nota ao Valor.

Cálculos da entidade indicam que o Estado e os municípios do Rio têm potencial de arrecadação de R$ 124,2 bilhões em participações governamentais oriundas das atividades de exploração e produção de petróleo, caso o Repetro permaneça válido para o Estado. Hoje, o Rio adota o Repetro por meio de um decreto do Executivo estadual, que pode ser derrubado pelo PL que corre na Alerj.

Segundo o secretário-executivo de exploração e produção do IBP, Antonio Guimarães, caso o PL seja aprovado, ele tem potencial para reduzir a taxa de retorno dos projetos petrolíferos abaixo de 10% e torna-los inviáveis no Estado.

“O maior investimento está na fase de desenvolvimento da produção. Se não houver Repetro [no Rio de Janeiro] e outro Estado tiver [o regime especial], a plataforma pode ser construída em outro Estado”, disse Guimarães, em audiência pública sobre o tema, no início do mês, na Alerj.

A indefinição sobre o Repetro no Rio tem preocupado inclusive o presidente da Petrobras, Pedro Parente. “Isso certamente modifica o resultado econômico dos projetos”, disse o executivo, em coletiva de imprensa sobre os resultados da companhia em 2017. “Obviamente não é neutro [para a Petrobras], o que vai ser decidido na Assembleia [Alerj]”, completou.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também se posiciona contra o PL do deputado Ceciliano, ressaltando a importância do convênio firmado no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que autorizou a concessão do benefício fiscal e aduaneiro do Repetro ao Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para operações na área de exploração e produção de petróleo e gás natural até 2040.

Questionado se as indefinições sobre a aprovação do Repetro na Alerj podem prejudicar o interesse pelos leilões petrolíferos, o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, disse esperar que o Rio priorize a tributação “mais alta possível, mas sem ser regressiva em demasia de forma a inibir os investimentos”. “É importante para o Rio ter competitividade para atrair investimentos”, completou, lembrando que a produção da Bacia de Campos, no Estado do Rio, está declinando e que é importante para o Estado atrair investimentos em tecnologias de recuperação das áreas maduras.

O advogado Alexandre Herlin, do escritório Chediak Advogados, defende que, em vez de alterar o Repetro no Rio, os parlamentares fluminenses podem discutir no Congresso formas de aumentar a parcela de distribuição de royalties da produção do petróleo para o Estado.

José Andrés Lopes da Costa, também do Chediak Advogados, alerta que, diferentemente da taxa de fiscalização ambiental e de cobrança de ICMS sobre a produção petrolífera, criadas pela Alerj, mas que ultrapassavam a esfera estadual e por isso foram consideradas inconstitucionais, a assembleia tem competência para alterar o Repetro no Rio.

Já o especialista em setor petróleo Luiz Cezar Quintans, sócio do Quintans e Sesana Advogados, entende que há espaço para questionar o PL no Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso, ele avalia que a discussão do projeto na Alerj não deve afetar a 15ª Rodada. “Se a Alerj resolver alterar o ICMS de 3% para 20%, as empresas de petróleo irão ao Supremo e não vão pagar essa conta, por ser inconstitucional a cobrança do ICMS sobre as admissões temporárias”, afirmou. A 15ª Rodada ofertará 70 blocos em sete bacias sedimentares.

Fonte: Valor