Parado há mais de cinco anos, navio da USP deve ser doado ao Uruguai

Parado há mais de cinco anos, navio da USP deve ser doado ao Uruguai

Primeiro navio brasileiro a participar de uma operação na Antártida e uma das embarcações com mais história na oceanografia nacional, o Professor W. Besnard deve virar, em breve, propriedade do Uruguai. A reitoria da USP já está analisando a doação para o governo do país vizinho.

Sem condições físicas e de segurança para navegar após ser atingido por um incêndio no fim de 2008, a embarcação, construída em 1966, está parada há mais de cinco anos no porto de Santos.

Desde então, estuda-se o que fazer com o navio que, mesmo parado, gera custos com manutenção e com sua tripulação, que permanece recebendo salário.

Em 2009, a então reitora da USP, Suely Vilela, liberou R$ 2 milhões para o conserto da embarcação. Segundo o pedido de verba feito pelo Instituto Oceanográfico, o dinheiro serviria para reparos e aquisição de equipamentos.

O montante, porém, nunca chegou a ser usado no Besnard. Segundo a assessoria de imprensa da USP, o dinheiro serviu para reformas na embarcação mais nova da USP, o Alpha Crucis, e em equipamentos para um barco menor, o Alpha Delphini.

Apesar de ter usado a verba do Prof. Besnard, o próprio Alpha Crucis também enfrenta problemas.

Em maio, a Folha revelou que o novo navio, que recebeu um investimento de cerca de R$ 23 milhões, com verbas da USP e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), estava parado havia mais de seis meses também no porto de Santos, com problemas para voltar a realizar atividades de pesquisa.

O orçamento oficial da USP prevê gastos de mais de R$ 800 mil com as embarcações neste ano.

Devido ao alto custo da manutenção e do preço que uma eventual obra de reparo (que incluiria refazer todo o quadro elétrico e repor diversos componentes do motor principal), tem ganhado força o movimento para dar uma destinação ao velho navio.

CONTROVÉRSIA

Entre as opções de destino do navio estava sua conversão em museu, uma doação e até mesmo um afundamento controlado, para fazer dele um recife artificial.

 

No entanto, o que prevaleceu foi a vontade de alguns setores, que preferiam a doação para o Uruguai. Fontes ligadas ao Instituto Oceanográfico disseram que a transferência para o Uruguai foi discutida em reunião da congregação do instituto.

 

A razão da escolha do país vizinho e outros pormenores técnicos não foram explicados pela USP.

 

A reportagem entrou em contato com o vice-diretor do Instituto Oceanográfico, Michel Mahiques, em busca de esclarecimentos. Após reportagem sobre o estado do Alpha Crucis, ele disse que não falaria com a Folha.

 

Em maio, no entanto, Mahiques já havia mencionado a predileção pela doação. “Desde 2010, têm sido feitas gestões para um fim nobre para o Besnard e estamos tentando conseguir viabilizar, juridicamente, uma doação”, disse em um e-mail.

A assessoria da USP confirma que a universidade está analisando a doação para o governo do Uruguai.

“Processos desse gênero precisam passar pela aprovação das comissões do Conselho Universitário e, posteriormente, do próprio Conselho Universitário. No momento, a doação do navio está sendo analisada na Comissão de Orçamento e Patrimônio e não há prazo para conclusão do processo”, afirmou.

Apesar da concentração aparente de muita ferrugem e de outros pequenos danos no casco, a USP nega que o navio esteja abandonado.

Professores da USP que preferiram não se identificar criticaram a maneira “sigilosa” como o processo tem sido conduzido. Eles afirmam que, diante da situação de endividamento da universidade, seria difícil viabilizar dinheiro para a reforma do Professor W. Besnard.

A Prefeitura de Santos, que já disse querer ficar com o navio para transformá-lo em museu, afirmou que ainda tem interesse na embarcação e busca recursos e parcerias para viabilizar o projeto.

Fonte: Folha de São Paulo / FOTOS: Davi Ribeiro-Folhapress