Estaleiro muda a face de São José do Norte

Isolada em uma faixa estreita de terra entre o mar e a Lagoa dos Patos, São José do Norte, uma pequena cidade de pouco mais de 26 mil habitantes, prepara-se para seu maior desafio. A chegada da construção naval ao município, com a instalação do estaleiro do grupo EBR (Estaleiros do Brasil), propõe à população a difícil tarefa de conciliar desenvolvimento econômico com a tranquilidade atual.

Apelidada de Mui Heroica Villa, por Dom Pedro II, em razão de seu papel na Revolução Farroupilha, a provinciana cidade da Metade Sul quer seguir os passos da vizinha rica do outro lado da lagoa – e já íntima da indústria naval. A tarefa não será nada fácil. Só para comparar, enquanto o PIB per capta de Rio Grande alcançava R$ 41.376,38, em 2011 (dado do IBGE), a heroína de Dom Pedro cravava escassos R$ 10.144,94 no mesmo período — menos de um quarto do poder de compra da chamada Noiva do Mar.

Entre as explicações admitidas para o esquecimento de São José do Norte pelos grandes investidores até a vinda do EBR, está o fato de que há alguns anos não existia ligação asfáltica até o município. A BR-101, única rodovia de acesso ao local, era uma pista de areia (hoje está completamente asfaltada) e apelidada há muito tempo de Estrada do Inferno. Além disso, a cidade é cercada pela Lagoa dos Patos a oeste e pelo mar ao leste. Porém, atualmente, é o potencial aquaviário que permitirá a implementação do estaleiro que mudará a economia da região baseada atualmente na cultura da cebola, pesca e madeira.

Para o gerente administrativo do EBR, Carmelo Gonella, o estaleiro, cujas obras estão quase na metade, será uma revolução, trazendo progresso e a perspectiva de melhora da qualidade de vida. Segundo o dirigente, o complexo ficará situado em uma área nobre do município (na localidade do Cocuruto). Ali há um canal natural, dispensando uma dragagem de maior porte e permitindo que o estaleiro tenha um calado de aproximadamente 14 metros. O canal será mantido através da correnteza que provém do mar e entra na Lagoa dos Patos, evitando dragagens constantes.

O gerente do EBR afirma que a empresa tem como prioridade o emprego de pessoas da região. No começo deste mês de fevereiro, eram em torno de 700 trabalhadores atuando nas obras da estrutura e 90% deles moravam nas cercanias. Apesar do número expressivo, o salto será dado quando iniciarem os trabalhos de implementação da P-74, primeira plataforma de petróleo que será feita em São José do Norte. No pico das obras, a P-74 deve absorver em torno de 3 mil funcionários. Gonella estima para este ano a contratação de pelo menos 1 mil pessoas e a partir daí será um crescente.

Uma etapa fundamental para o estaleiro, que é um dos focos dos trabalhos no momento, é a concretização do cais. Isso porque as estruturas metálicas chamadas de pancakes (espécie de bases que servem de apoio para os componentes dos módulos da plataforma) devem estar no Estado ao final de março, parte proveniente da Tailândia e outra da Turquia. Paralelamente, o casco da P-74 está sendo preparado no Rio de Janeiro e deve chegar ao Rio Grande do Sul dentro de 18 a 24 meses.

O EBR, por contrato, tem que entregar a plataforma até o dia 16 de dezembro de 2015. A construção do estaleiro, que absorverá um investimento de cerca de R$ 300 milhões, e o início da implementação dos módulos serão conduzidos simultaneamente. O grupo ainda aguarda o comportamento do mercado para definir a instalação de um dique seco no complexo, o que aumentaria em muito o aporte no empreendimento.

Fonte: Jornal do Commercio (POA)/ Jefferson Klein, de São José do Norte