Em meio à guerra comercial, grãos perdem valor em Chicago

Em meio à guerra comercial, grãos perdem valor em Chicago

A escalada de tensão entre EUA e China prejudica fortemente a cotação da soja e do milho negociados hoje em Chicago. A soja chegou a recuar 5% nesta manhã. O milho, 3%. 

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou cobrar mais direitos aduaneiros, com uma taxa adicional de 10% sobre um leque ainda mais vasto de produtos chineses, num valor total de US$ 200 milhões. Pequim reagiu ainda nesta madrugada com dureza, prometendo tomar “medidas quantitativas e qualitativas” contra o que qualifica como “uma pressão extrema” e “chantagem”. Trump promete agora agravar ainda mais a cobrança de direitos aduaneiros se a China retaliar. 

A taxa de 10% anunciada pelo governo americano soma-se à taxa anterior de 25%, aplicada em bens industriais e agrícolas e agora ampliada para outros produtos, como brinquedos, ferramentas e roupas. 

“Acho que o impacto desta guerra não acabou e vamos ver novas baixa”, disse Stefan Vogel, estrategista global de grãos e sementes do Rabobank.

A China é o maior importador de soja do mundo. Em 2017, comprou 93 milhões de toneladas do grão, a maior parte do Brasil, EUA e Argentina. Quase dois terços da soja produzida em território americano, por sua vez, vão para os chineses. Segundo estudo realizado pela equipe de economistas agrícolas da Universidade de Perdue, as importações de soja dos EUA pela China podem cair 65% caso a tarifa seja, de fato, levada a cabo. 

“Agora que a situação se tornou séria, muitas previsões otimistas do potencial de vendas da soja americana na China podem se provar injustificáveis”, disse o Commerzbank, em nota. O banco, contudo, ressalta que as tarifas precisarão vigorar até o outono do ano que vem para, de fato, afetar as exportações dos EUA. O país está atualmente em sua entressafra, semeando os grãos do ciclo 2018/19.

Essa importante questão comercial tem afastado os investidores dos pregões de Chicago. Segundo a AgResource, os fundos de gestão ativa reduziram agressivamente suas posições compradas da soja-grão na última semana. “Houve uma reversão de quase 60 mil contratos líquidos comprados, agora somando apenas 12 mil posições no lado da compra”, disse a consultoria em relatório. 

“O mercado retirou grande parte das posições abertas no lado da compra, aqui na CBOT [a bolsa de Chicago]. O risco tem sido evitado, agora a especulação espera por novos diálogos que devem ser abertos entre as nações envolvidas nesta guerra comercial”.

No Brasil, o impacto das tensões eleva desde ontem os prêmios da soja nos portos, já que, teoricamente, aumenta o interesses dos asiáticos pela soja brasileira. Depois de ter chegado perto dos US$ 2 o bushel em abril, os prêmios pagos pela soja brasileira haviam se estabilizado em US$ 0,50 o bushel, segundo Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado. “Há duas semanas vemos os prêmios voltando a subir e, ontem, chegaram a US$ 1,50”, afirmou, citando os contratos com vencimento em julho. Entretanto, a alta do dólar e a queda do preço de referência em Chicago tornam a lucratividade ao produtor menor que se imagina.

Fonte: Valor