Dilma tem tarefa urgente de recuperar confiança empresarial, diz IIF

Dilma tem tarefa urgente de recuperar confiança empresarial, diz IIF

Reeleita, a presidente Dilma Rousseff enfrenta agora a tarefa urgente de despertar o “espírito animal” dos empresários, para libertar a economia de uma combinação de inflação elevada e estagnação econômica, afirma Ramón Aracena, economista-chefe para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). Ele considera, porém, que vários fatores tendem a dificultar o desafio da presidente de recuperar a confiança do setor privado.

“Primeiro, o ajuste necessário implica reverter muitas políticas adotadas no seu primeiro mandato. Segundo, o mercado ainda precisa ser convencido de que a mudança é um retorno duradouro a um arranjo baseado no regime de metas de inflação, disciplina fiscal e câmbio flutuante”, observa Aracena. “Terceiro, a oposição política às iniciativas da presidente tendem a ser mais fortes, devido à margem estreita de vitória e à maior fragmentação do Congresso”, diz ele, em relatório divulgado na última sexta-feira.

Para aumentar o impacto sobre a confiança, o ajuste tem que ser amplo e forte, avalia Aracena. Ele acredita que o aperto monetário iniciado logo após as eleições vai levar a taxa Selic, hoje em 11,25% ao ano, para 12,5% em meados do ano que vem. “O aperto monetário, no entanto, precisa ser complementado por uma contenção do crédito pelos bancos públicos e uma restrição fiscal significativa, para reverter uma deterioração firme das finanças públicas”, diz ele, citando os maus resultados fiscais recentes, como o baixo superávit primário, além do aumento da dívida bruta nos últimos três anos, que pulou de 55% do PIB para 62% do PIB.

Nesse cenário, a escolha do ministro da Fazenda será importante. Um nome com credenciais fortes pode ajudar a acalmar o mercado, segundo o economista. Para Aracena, reduzir as distorções de preços provenientes do represamento de preços administrados e aumentar a flexibilidade do câmbio também serão necessários para equilibrar a economia. “O caminho à frente oferece pouco espaço para acidentes de política. A fraqueza do crescimento tende a continuar no ano que vem, mesmo se houver um realinhamento bem implementado de políticas.”

Aracena acredita que o governo adotará uma abordagem gradual, o que sugere uma recuperação demorada da economia. “Hesitação sobre políticas é um luxo que pode deixar o Brasil atolado com crescimento anêmico e deterioração contínua de suas contas públicas e externas, o que pode levar o país a perder o grau de investimento”, afirma o economista do IIF, a associação que reúne os principais bancos do mundo.

O IIF prevê um crescimento para o Brasil de 0,1% para 2014 e 0,8% para 2015. Em setembro, as projeções eram de 0,1% e 1,1%, pela ordem.

Fonte: Valor Econômico/Sergio Lamucci