Busca na Engevix fornece indícios do 'clube de empreiteiras' do Comperj

Busca na Engevix fornece indícios do ‘clube de empreiteiras’ do Comperj

A Polícia Federal (PF) encontrou na sede da Engevix, em Barueri, entre planilhas e anotações do chamado “clube de empreiteiras”, tabelas do “Bingo Fluminense”, em que 16 empresas fatiaram entre si itens contratuais para obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), segundo os investigadores. As empresas são investigadas pela operação Lava-Jato.

O material foi encontrado no dia 14 de novembro, quando foi deflagrada a 7ª fase da operação Lava-Jato, a “Juízo Final” e revelado pelo site da revista “Época” na noite de segunda-feira. Segundo delatores do caso Petrobras, o clube consistiu em uma sistemática adotada pelas empreiteiras para lotear obras públicas em esquema de cartel.

A prática, que segundo a PF configura fraude à Lei de Licitações, é o principal fundamento para a denúncia que o Ministério Público Federal (MPF) deve oferecer contra 11 executivos de empreiteiras até quinta-feira.

As 11 tabelas apreendidas na Engevix em 14 de novembro mostram um torneio com pontuação, divisão de equipes, prêmios e datas. Há também anotações manuscritas sobre as supostas combinações e registros em computador sobre o fatiamento das obras.

Nas planilhas do “clube”, as obras ou contratos aparecem registrados como “prêmio” e as construtoras são as “equipes”. Consta ainda a identificação de itens que definem “prioridade” e “apoio”. Para a PF, significam os beneficiados e os que eram auxiliados no suposto esquema.

Em outra tabela intitulada “Mapão”, as empresas registram a divisão das obras em até 14 unidades da Petrobras. Há controles sobre quem foi contratada, quem entrou como “apoio”.

São contratos da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), da Refinaria Getúlio Vargas, no Paraná (Repar) e da Replan. Todas elas foram indicadas pelos delatores da Setal, Julio Camargo e Augusto Mendonça, como envolvidas em cartel, corrupção e pagamentos de propinas.

O esquema teria existido entre 2004 e 2012. Entre 1% e 3% dos contratos seriam desviados para financiar campanhas de PT, PMDB e PP, segundo o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

Nas planilhas, as empresas são mencionadas por siglas: OA (OAS), CC (Camargo Corrêa), QG (Queiroz Galvão), CNO (Construtora Norberto Odebrecht), AG (Andrade Gutierrez) UT (UTC Engenharia).

Em nota, a Odebrecht diz que “reafirma que não participa de cartéis. Todos os seus contratos são conquistados por meio de processos de seleção e concorrência dentro do que prevê a legislação. A Odebrecht também não reconhece supostas anotações ou listagens apócrifas, que não correspondem à prática da empresa “.

A UTC também diz em nota não participar de cartéis. “A UTC repudia qualquer insinuação que tente relacioná-la a um suposto cartel ou clube de empreiteiras. Todos seus contratos são públicos e seguem o que determina a legislação.”

A assessoria de imprensa da Camargo Corrêa também emitiu nota na qual afirma que “a empresa desconhece os documentos mencionados pela reportagem e esclarece que as ilações colocadas são improcedentes”.

A Andrade Gutierrez informa em nota que “por não ter tido acesso aos documentos citados pela reportagem não tem como comentar o conteúdo nem a veracidade dos mesmos”. “Em relação ao tema geral da reportagem a Andrade Gutierrez afirma que todos os contratos da empresa com a Petrobras foram realizados dentro dos processos legais de contratação e nega veementemente qualquer ilação ou acusação de cartel sobre o caso. A empresa informa ainda, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos hoje investigados.”

Procuradas, OAS e Queiroz Galvão não responderam os questionamentos feitos pela reportagem.

(Fonte: Valor Econômico/André Guilherme Vieira e Letícia Casado | De Curitiba)