Após 37 dias incomunicáveis no mar, brasileiros ficam presos em barco impedido de entrar na África do Sul

Após 37 dias incomunicáveis no mar, brasileiros ficam presos em barco impedido de entrar na África do Sul

Grupo saiu de Angra dos Reis, no litoral Sul do Rio de Janeiro, com destino a Cape Town, em 17 de março, seis dias depois de o coronavírus ser declarado pandemia

Um grupo de brasileiros e franceses que, partiu de veleiro de Angra dos Reis, litoral Sul do Rio de Janeiro, para Cape Town, na África do Sul, viajou por 37 dias sem saber que o coronavírus havia fechado as fronteiras do país de destino. Do outro lado do oceano, acabou preso dentro da embarcação por conta da quarentena que fechou fronteiras. E isso já dura quase três semanas.

Ricardo Schaly, Norton Mello, Rafael Karan e os franceses Jean Claude Nicolas e Christian Alby — com idades entre 58 e 72 anos — partiram do Brasil em 17 de março, seis dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o coronavírus uma pandemia. Eles planejavam fazer a travessia em 25 dias. No entanto, condições meteorológicas desfavoráveis fizeram com que eles tomassem outra rota, o que prolongou o tempo de travessia.

O sistema de comunicação da embarcação — um veleiro de 1982 com dois mastros, 46 pés e duas cabines — teve uma pane na qual eles só conseguiam enviar mensagens — e não receber. Por isso, não receberam nenhuma notícia da velocidade do espalhamento do coronavírus pelos países. Eles chegaram em Cape Town na madrugada do dia 23 e, em poucos minutos, descobriram através de oficiais da polícia local que não poderiam entrar no país por conta da maior crise sanitária do planeta no século 21.

A África do Sul determinou o lockdown em 26 de março — nove dias depois da partida do grupo — ainda com poucos casos da doença. Atualmente, são quase seis mil infectados e 116 mortos. Entre as principais medidas, ninguém poderia mais entrar ou sair do país. Por isso, os velejadores não puderam descer do barco.

O grupo atracou num clube náutico de Cape Town e foram recebidos por seguranças e pelo administrador do espaço. Logo depois chegou a polícia e a Capitania dos Portos. A primeira ordem era das autoridades era de que eles deveriam virar e voltar para o Brasil. O capitão da embarcação, o francês Christian Alby, argumentou que a travessia havia sido muito dura e que o veleiro teve avarias perigosas — é preciso pelo menos três meses de reparos para que ele pudesse voltar ao mar com segurança.

A expectativa era de que o relaxamento da quarentena na última sexta-feira liberaria o grupo para entrar legalmente no país. No entanto, mesmo com a diminuição das restrições, eles seguem impedidos de pisar em terra firme. O consulado brasileiro no local tenta ajudá-los — segundo Ricardo, há outros brasileiros tentando retornar ao país.

Fonte: Época