Setor produtivo e exportadores reagem a ‘tarifaço’ de Trump

Setor produtivo e exportadores reagem a ‘tarifaço’ de Trump

O aumento, a partir de 1º de agosto, para 50% das tarifas sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciado na última quarta-feira (9) pelo presidente norte-americano, Donald Trump, motivou a reação imediata de setores produtivos e ligados ao comércio exterior brasileiro. Em nota divulgada ontem, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou que acompanha com atenção a decisão americana e disse que a medida foi unilateral não se justifica, pelo “histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, em estrita conformidade com os melhores princípios do livre comércio internacional”.

No documento, a entidade afirma que o aumento das tarifas prejudica as economias dos dois países, causando danos a empresas e consumidores. E que “qualquer análise das relações entre os Estados Unidos e o Brasil, seja no campo no comércio ou dos investimentos, terá sempre que concluir que essas relações sempre serviram aos interesses dos dois países, não havendo nelas qualquer desequilíbrio injusto ou indesejável”.

A CNA ressaltou que Estados Unidos e o Brasil, em 200 anos de relações, sempre estiveram do mesmo lado e não há qualquer razão para que essa situação se modifique. E que “os produtores rurais brasileiros consideram que essas questões só podem ser resolvidas em benefício comum por meio do diálogo incessante e sem condições entre os governos e seus setores privados” e que “a economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”. A confederação acrescenta que ainda tem esperança de que os canais diplomáticos sejam acionados e que a razão e o pragmatismo se imponham para benefício de todos.

Também em nota divulgada ontem, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) diz ter recebido “com indisfarçáveis surpresa e indignação” a notícia de aumento para 50% da tarifa de importação dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. A AEB classifica as medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos como uma ameaça não só aos exportadores, mas à toda a economia do Brasil, ponderando que tem esperança de que o bom senso prevalecerá e a taxação será revertida.

O presidente executivo da entidade, José Augusto de Castro, classificou a medida como política e previu que haverá grande impacto econômico. “É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil”, afirmou. Segundo Castro, além das repercussões no comércio com os Estados Unidos, o anúncio feito por Donald Trump pode criar imagem negativa do Brasil e gerar em importadores de outros países medo de fechar negócios com as empresas brasileiras por temer represálias do governo americano. “Afinal, quem vai querer se indispor com o presidente Trump?”, questionou.

O diretor geral do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, disse que a entidade acompanha com muita atenção as discussões sobe as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos, mas ressaltou que existe uma agenda positiva com a National Coffee Association, com membros dessa associação junto à administração do presidente Donald Trump, e que está esperançoso em uma solução que garanta uma condição adequada para o comércio de café do Brasil para os Estados Unidos. “Estamos na esperança de que o bom senso prevaleça, porque sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor americano”, disse.

Matos explicou que os Estados Unidos são o maior consumidor de café no mundo, com 24 milhões de sacas por ano, que o Brasil é o maior fornecedor para aquele país, respondendo por 30% desse total, e que as tarifas atuais estão em 10%. Além disso, assegurou que o café importado pelos americanos gera muita riqueza para eles, na industrialização. “Para cada um dólar de café importado, são gerados 43 dólares na economia americana. São 2,2 milhões de empregos e 343 bilhões de dólares, correspondentes a 1,2% do PIB dos Estados Unidos”, informou Matos.

Segundo o diretor geral do Cecafé, 76% dos americanos consomem café e serão eles os mais prejudicados se as tarifas de 50% passarem a ser cobradas a partir de agosto, como anunciou Trump. “Tudo que gera impactos ao consumo é ruim para o fluxo do comércio, para a indústria e para o desenvolvimento dos países, produtores e consumidores”, afirmou.

Outra entidade que se manifestou em nota foi a Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas), que considerou que a medida acendeu um sinal de alerta para o equilíbrio das relações comerciais com o Brasil, atingindo diretamente o setor de rochas naturais brasileiros, que tem nos Estados Unidos seu principal destino e que para lá foram, em 2024, 56,3% de exportações do setor, gerando receita de 711 milhões de dólares.

A associação entende que, se for confirmada a nova alíquota, o Brasil ficará em desvantagem frente a concorrentes, como Itália, Turquia, Índia e China, que pagariam taxas menores. A elevação das tarifas, segundo a Centrorochas, ameaça mais de 200 empresas exportadoras de rochas brasileiras e uma cadeia que gera cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no país.

Também a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) manifestou em nota preocupação com aumento das tarifas cobradas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que classificou de “medida extremamente severa, tomada com base em interesses político-partidários internos e que rompe com os princípios fundamentais que regem o comércio internacional”.

No documento, o Findes afirma ainda que decisões unilaterais “comprometem a previsibilidade das relações comerciais, criam instabilidade nos mercados e colocam em risco cadeias produtivas inteiras, com reflexos diretos no emprego, na arrecadação e no crescimento econômico”. Segundo a associação, os setores mais prejudicados no Espírito Santo seriam os de aço, rochas ornamentais, papel e celulose, minério e café.

Fonte: Revista Portos e Navios