
Safmarine diz que Brasil perde espaço na África
A Safmarine, armador internacional de contêineres focado em mercados que crescem rapidamente, diz que o Brasil está perdendo oportunidades no continente africano, uma das rotas em que a empresa é especializada. Dados da consultoria de comércio exterior Datamar, compilados a pedido da empresa, mostram uma queda no ritmo de crescimento das trocas marítimas entre o Brasil e países da costa oeste africana e África do Sul – exceção feita à Angola, que vem registrando sucessivas altas.
O crescimento com nações-chave como Nigéria, Gana, Senegal e África do Sul diminuiu, estagnou ou recuou entre 2010 e 2013. Especificamente na comparação entre o primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2013, o fluxo comercial marítimo em contêineres do Brasil com o Senegal recuou dois dígitos (queda de 56,6%). O mesmo ocorreu com Gana (-28,6%). O comércio brasileiro com a África do Sul, principal parceira comercial do Brasil no continente, também decepcionou: queda de 8,1%. Apesar de o transporte marítimo com a Nigéria ter crescido na comparação entre os períodos (39,7%), a curva dos últimos anos mostra um arrefecimento no fôlego
“Vemos uma desaceleração do crescimento. Isso acontece de forma generalizada nas trocas brasileiras. Se o Brasil quer crescer mais, precisa se integrar mais profundamente nos mercados exteriores e a África é uma oportunidade enorme”, afirma Dirk Van Hoomissen, diretor-gerente da Safmarine no Brasil, destacando os setores de bebidas, alimentos, maquinários e o mercado de fertilizantes.
Entre as especificidades que as empresas brasileiras parecem ignorar no continente o executivo cita a vasta população. Mais de 1 bilhão de pessoas e uma classe média ascendente que ultrapassa 310 milhões de pessoas. “O que percebemos é que a África ainda é um continente um pouco misterioso para as indústrias”, diz Hoomissen.
De acordo com a consultoria McKinsey Global Institute, a África tem a classe média que mais cresce no mundo e cujos gastos devem passar de US$ 860 bilhões para US$ 1,4 trilhão em 2020. No entanto, diz Hoomissen, as exportações brasileiras para o continente respondem por apenas 8% dos embarques brasileiros totais. Enquanto isso, a Ásia detém fatia de 25%. Na mão inversa, a África responde por menos de 1% das importações brasileiras ao passo que a Ásia – puxada pela China – participa com 49%.
No Brasil há dez anos, a Safmarine, empresa pertencente ao grupo dinamarquês Maersk, opera dois serviços marítimos entre o país e a África, englobando mais de 40 destinos finais. Mesmo com o ritmo mais lento de crescimento nas trocas comerciais, a empresa não pretende reduzir a oferta operacional, pelo menos por ora.
A companhia é uma das principais a realizar o transporte do Brasil para a África. Sobretudo os embarques de produtos refrigerados, seu principal nicho de atuação. Hoje, por exemplo, o armador é responsável por transportar mais de 30% dos contêineres refrigerados para Angola.
Além da América do Sul e África, a Safmarine atua no Oriente Médio e no subcontinente indiano. Apesar de focada primeiramente em mercados emergentes, a oferta de serviços em contêineres também inclui Europa, Extremo Oriente, América do Norte e Ásia. O grupo Maersk é líder no transporte mundial de contêineres, operando uma frota de quase 600 embarcações porta-contêineres.
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pires | De Santos