
Petrobras aposta em SMRs para cortar emissões e ampliar produção no pré-sal
A Petrobras estuda o uso de pequenos reatores nucleares modulares (SMRs) como alternativa para descarbonizar suas plataformas de petróleo no pré-sal. A tecnologia poderia substituir o gás natural atualmente utilizado e, de quebra, permitir a expansão da produção em campos com limitações energéticas.
O que são os SMRs e por que interessam à Petrobras
Os SMRs (Small Modular Reactors) são reatores nucleares de menor porte, fabricados em escala industrial e transportáveis para diferentes locais de operação. Ao contrário das grandes usinas nucleares convencionais, eles podem ser instalados em embarcações próximas às plataformas, diretamente sobre as estruturas offshore e, futuramente, até mesmo no fundo do mar.
Na prática, os SMRs oferecem energia estável, limpa e de alta densidade, sem depender da queima de gás natural. Isso os torna especialmente atrativos para a Petrobras, que busca alternativas energéticas para suas plataformas do pré-sal — responsáveis por grande parte da produção nacional de óleo e gás, mas também pelas emissões associadas ao processo.
Segundo o consultor de projetos da Petrobras, Fabio Passarelli, a adoção dos SMRs poderia viabilizar não só a descarbonização das operações, mas também a exploração de novas reservas em campos onde a disponibilidade de energia é um gargalo.
Impactos ambientais e estratégicos da descarbonização
No primeiro semestre de 2025, a Petrobras registrou 15,3 quilos de CO² equivalente por barril produzido em suas operações — um aumento em relação a 2024. Esse crescimento foi atribuído à queima de gás natural durante a entrada em operação de novas plataformas.
Com os SMRs, a estatal poderia reduzir significativamente suas emissões, contribuindo para os compromissos assumidos em sua agenda de Transição Energética e Sustentabilidade. A eletrificação das plataformas via energia nuclear se tornaria, assim, um instrumento direto de descarbonização.
Além dos ganhos ambientais, a energia nuclear modular permitiria à Petrobras otimizar custos operacionais e ampliar a produção em áreas maduras ou em fase de declínio, destravando reservas que hoje não são exploradas por limitações de fornecimento energético.
Esse movimento também reforçaria a posição do Brasil como um dos líderes globais na produção de petróleo de baixo carbono, equilibrando exploração e responsabilidade ambiental.
Parceria com a Marinha e os desafios para o Brasil
A implementação dos SMRs em águas brasileiras não será simples. O desenvolvimento da tecnologia exige parcerias estratégicas, e a Petrobras já discute com a Marinha do Brasil formas de acelerar pesquisas conjuntas.
A Marinha possui experiência acumulada em propulsão nuclear naval, mas ainda em estágio inicial quando se trata de reatores aplicados à geração de energia offshore. Segundo o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Força, Almirante Alexandre Rebello, os principais gargalos incluem a falta de mão de obra altamente especializada e a ausência de uma cadeia nacional de suprimentos.
Outro desafio será a opinião pública. Apesar de os SMRs oferecerem vantagens de segurança superiores às usinas tradicionais, ainda existe resistência quanto ao uso da energia nuclear em larga escala. Para Fabio Passarelli, é fundamental “convencer a sociedade de que a solução é segura, descarbonizada e competitiva”.
Se superados os obstáculos técnicos, regulatórios e sociais, os SMRs podem representar um salto tecnológico para o Brasil: ao mesmo tempo em que viabilizam a descarbonização do pré-sal, consolidam a integração entre Petrobras e Marinha em um projeto de relevância global.
Fonte: Defesa em Foco