Painel: O futuro da navegação na Amazônia – Tendências e Oportunidades

Painel: O futuro da navegação na Amazônia – Tendências e Oportunidades

O segundo dia de conferência da Navalshore Amazônia aconteceu nesta quinta-feira (25) e teve como principal temática os desafios logísticos da região. Os expositores foram unânimes em afirmar que as características geográficas dos rios são vistos como um enorme desafio, mas também oferecem muitas oportunidades.

Carlos Padovezi, diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), listou como principais desafios para o setor naval na Amazônia a sustentabilidade, transporte de passageiros, convivência entre grande número de embarcações no fluxo dos rios, além do transporte de cargas por comboio de barcaça.

Para ele, o transporte precisa ser feito respeitando o meio ambiente e as necessidades básicas dos indivíduos e das sociedades, com segurança e de maneira consistente. O grande problema são os custos operacionais, a acessibilidade e uso de recursos naturais. “A gente precisa buscar o equilíbrio de forma sustentável”, afirma Padovezi.

O diretor falou ainda sobre os desafios que as características da região oferecem, como por exemplo a velocidade das embarcações no Amazonas. “Quanto maior a velocidade, maior o risco para a navegação”, explica. Ainda segundo Padovezi, o conforto e a segurança dos passageiros ainda são outros grandes desafios.

A tendência de aumento de tráfego nos rios da Amazônia é outro desafio que o futuro próximo trará para o setor. A questão da segurança, segundo o diretor do IPT, precisa receber atenção especial.

O treinamento de tripulações também é visto como uma necessidade. De acordo com o diretor do IPT, o fator humano acaba sendo a causa de acidentes nos rios em cerca de 70% a 80% dos casos. “Daí a necessidade constante de treinamento, treinamento e treinamento para reduzir o risco e aumentar a segurança”, sugeriu.

Padovezi falou ainda do enorme potencial da região Amazônica para o transporte de grandes comboios de cargas. Para ele, o mercado local possui campo para muita expansão, desde que o nível de segurança seja satisfatório. Ao finalizar, ele defendeu ainda a existência de subsídio para o transporte regional de passageiros e uma atenção ao processo de ocupação das margens das hidrovias em trechos críticos da navegação.

Tecnologia de ponta no coração da Amazônia

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval), Irani Bertolini, iniciou sua apresentação falando do cenário atual das embarcações no Amazonas, explicando como a tecnologia hoje faz parte do processo.

Para ele, o crescimento e desenvolvimento desse setor nesse quesito é motivo de orgulho. “Hoje a estrutura de estaleiros do Amazonas é de fazer inveja a qualquer parte do Brasil ou da América Latina”, orgulha-se.

Apesar de muitos avanços nos últimos anos, Bertolini afirma que há espaço para inovações ainda mais importantes, como a utilização de gás natural nas embarcações. Para o presidente do Sindnaval, além do menor potencial de poluição desse modelo, ele resolveria o problema da pirataria nos rios, onde criminosos buscam roubar combustíveis derivados de petróleo.

Ainda de acordo com o presidente do Sindnaval, o futuro da navegação fluvial será a presença de barcos autônomos. “Com a navegação automática, o problema da segurança se resolve. Isso será o futuro”, afirmou.

“Precisamos ser ouvidos”

O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma), Oziel Mustafa Neto, falou sobre as vantagens que a região Amazônica oferece para a navegação. “Temos uma vasta hidrovia que nos foi presenteada por Deus”, celebrou.

Além de vantagem, Mustafa lembrou que a atividade representa uma necessidade e um desafio, visto que quinto-sexto dos municípios do Amazonas só possuem ligação por rios e 70% do transporte escolar também é feito dessa forma.

Mas, de acordo com o vice-presidente do Sindarma, há diversos entraves que impedem a expansão da atividade. Dentre elas, a burocracia, as muitas exigências, custos elevados, pirataria, infraestrutura deficitária e problemas no compartilhamento de águas.

Mustafa lembrou que muitos municípios do interior não possuem terminais adequados, fazendo com que a população desembarque no meio de cargas, o que aumenta os custos, os riscos de segurança e a própria burocracia. “Quem trabalha na área tem sido muito pouco consultado na hora de elaborar os critérios para exercer o ofício”, lamentou.

O vice-presidente do Sindarma pediu ainda que seja efetivado um serviço de segurança para as hidrovias, principalmente diante da ação dos piratas dos rios, tal qual é feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). “Precisamos de patrulhamento constante, permanente e perene”, pediu.

Em linhas gerais, Mustafa afirmou que o setor tem muitos pontos positivos, mas avalia que ainda está longe do ideal e é preciso atenção para resolver o presente. “O agora é o que vai ditar o futuro. Conhecer o que o navegador do Amazonas precisa é o que vai ditar esse futuro. Precisamos ser ouvidos”, apelou.

Navegação na Amazônia só cresce

José Renato Fialho, superintendente de Desempenho, Desenvolvimento e Sustentabilidade da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), trouxe uma série de dados sobre o cenário aquaviário brasileiro. Em 2022, foram 1,209 bilhão de toneladas movimentadas na região, uma queda de 0,4% no setor em relação a 2021.

Fialho aproveitou para explicar que atualmente o Brasil não possui hidrovias, segundo o conceito propriamente dito. “Apesar de usarmos esse termo [hidrovias], o fato é que elas não existem atualmente no nosso país. Existem vias navegáveis e vias navegadas”, afirmou.

De acordo com o superintendente, o modelo de gestão estatal das vias navegáveis demonstrou-se inadequado. As amarras da administração pública estão dificultando os investimentos no setor hidroviário no Brasil.

“É consenso dentro da Antaq que o país precisa de um novo modelo”, avalia Fialho. Uma das alternativas seria a estruturação de uma política pública semelhante ao do BR do Mar, que seria conhecida como BR dos Rios. Nesse caso, seria possível a cobrança de uma tarifa para manutenção do serviço, em forma possivelmente de pedágio.

Atuação da Marinha na segurança

O capitão de Corveta Fábio Luiz Cavalcanti da Silva, Chefe da Segurança do Tráfego Aquaviário – 9º Distrito Naval da Marinha do Brasil salientou que o isolamento da região faz com que a navegação seja fundamental para conectar as diversas microrregiões da Amazônia.

Silva lembrou ainda que, ao contrário de outras cidades e estados do país, a navegação faz parte do cotidiano da população, até para situações comuns do cotidiano. “Quando cheguei aqui, imaginei que, tal qual na minha cidade, o Rio de Janeiro, só possuía embarcações quem tinha algum poder aquisitivo ou interesse esportivo na atividade. Aqui não. Na Amazônia, a navegação é usada no dia a dia, em diversas situações”, revelou.

A atuação da Capitania dos Portos e da Marinha foi lembrada ao longo da apresentação diante de situações de perigo, como a navegação no Rio Madeira, onde a quantidade de sedimentos na água chega a comprometer a navegação em diversos trechos. É função desse setor das forças armadas, a segurança de todos que trafegam nos rios da Amazônia.

Fonte: Portos e Navios